Márcia Brandão - Psicopedagoga

Por Márcia Brandão
www.instagram.com/marciabrandao.psicopedagoga/

11 de outubro de 2016

Os 2 primeiros passos que a Neurociência oferece para uma maior aprendizagem


Quer aprender mais rápido? A ciência oferece os dois primeiros passos

Utilizar estímulos agradáveis para descansar o cérebro e respeitar as diversas formas de aprender dos alunos são atitudes que trazem bons resultado

O cérebro é a resposta para os problemas da educação brasileira. Simples assim? Não. Enquanto políticas públicas e iniciativas escolares focam fortemente em remexer conteúdos e carga horária de disciplinas, os neurocientistas correm por fora na tentativa de convencer com novas práticas que, para eles, são mais atrativas e eficientes.

A primeira delas seria tirar as crianças da cadeira a tempos, com estímulos agradáveis e que descansem o cérebro. Permanecer sentado e ouvir aulas expositivas, sem descanso, não traz a possibilidade de interação com o ambiente, com o professor, com os outros alunos e com o conteúdo – esses movimentos, dizem os neurocientistas, ajudam o cérebro a absorver melhor as informações. Ao ser estimulado, um aluno tem reforçadas suas conexões entre os neurônios e a liberação de neurotransmissores que favorecem o ato de conhecer.

O processo de empatia com o professor é fundamental, garantindo que alunos produzam os neurotransmissores mais indicados para a aprendizagem: a dopamina e a ocitocina

Outra prática saudável, de acordo com os neurocientistas, é a de o professor conhecer cada aluno para desenvolver as atividades que motivem diferentes perfis. Como cada cérebro tem um ‘acionamento’ diferente é preciso respeitar essas diferenças e utilizá-las a seu favor.

“Para garantir a motivação dos diferentes perfis de alunos, os profissionais da educação precisam estar atentos às potencialidades de cada criança ou adolescente e oferecer a oportunidade deles mostrarem isso ao grupo”, explica a psicóloga e analista do comportamento Karine Angleri. “Essa prática aumenta a exposição de ideias e o senso crítico. Por exemplo, crianças ou adolescentes que são mais rápidas na execução das atividades podem ajudar os demais e, desta forma, trabalha-se não só com conteúdos, mas também o relacionamento interpessoal. Isto aumenta o engajamento das duas partes, na medida em que sempre um colega terá algo para ensinar ao outro.” Ela lembra que se deve buscar valorizar todas as tentativas dos alunos durante as atividades para garantir sua motivação, usando diferentes recursos de ensino, como estímulos visuais e táteis por exemplo.

Para a psicopedagoga e neurocientista Marta Relvas, “à medida que professor estuda estruturas do cérebro e habilidades dos alunos, pode potencializar a inteligência e as habilidades desses alunos, estimulando novas conexões neurais e usando recursos metodológicos diferenciados, como os processos motores do brincar funcional”, afirma Marta, que também é doutora e mestre em Psicanálise e autora de livros como “Neurociência e Educação, potencialidades dos gêneros na sala de aula”, publicados pela Wak Editora.

O processo de empatia também é fundamental, garantindo que alunos produzam os neurotransmissores mais indicados para a aprendizagem: a dopamina e a ocitocina. “São os hormônios da paixão, do que gostamos de fazer, que precisam ser despertados nos alunos pelo professor. O professor precisa fazer com que a turma se encante com o que ele traz, se ele não usa o encantamento, a indisciplina se instaura e a aprendizagem se perde”, afirma.

De uma forma geral, acredita-se que um ambiente estimulante pode significar 25% a mais de capacidade de aprendizagem

Estímulos

Todos são capazes de aprender, mas o aprendizado é mais efetivo se ocorrer em locais diferentes e provocado de formas diversas. Alguns estudos buscam avaliar a influência da quantidade de estímulos recebidos na infância no desenvolvimento cognitivo das crianças. De uma forma geral, acredita-se que um ambiente estimulante pode significar 25% a mais de capacidade de aprendizagem em relação a crianças que não recebem muitos estímulos. Os estímulos como o som, visão, tato, gustação e olfato são decodificados e associados, então por um trabalho conjunto do tálamo, hipotálamo e amígdalas cerebrais, são promovidas as lembranças e a aprendizagem significativa.

Físico


Um ambiente que agrada aos olhos e com um cheiro bom, também ajuda a reter informações. Há estudos que relacionam os espaços físicos com a qualidade do aprendizado e até com a memória. Ter o corpo bem estimulado é importante, mas ter o descanso devido é fundamental. O cérebro precisa do período de descanso para consolidar memórias e para se preparar para constituir novas. O cérebro humano cresce até a idade de 18 anos, mas leva até os 28, 30 anos para ser considerado maduro. Por isso que algumas aprendizagens acabam se consolidando em diferentes épocas da vida. Um conteúdo que foi passado quando um aluno tinha 10 anos, pode fazer sentido apenas quando ele se depara novamente com aquela informação, já na vida adulta, com o cérebro mais maduro.

Rotina

A criança precisa ter uma rotina de estudos pré-estabelecida com horário e local apropriado. Os pais precisam oferecer um espaço adequado, sem barulho, de preferência com poucos estímulos e distrações para manter a atenção da criança na tarefa. “Normalmente sugiro aos pais que também se organizem para estar presentes no momento da tarefa, com seus afazeres ou lendo um livro, para que a criança tenha um modelo e para que possa acessar os pais, caso tenha alguma dúvida. E nunca fazer por eles, mas com eles”, afirma a psicóloga Karine Angleri. Ler em voz alta para a criança também é ferramenta poderosa para o desenvolvimento cerebral dos pequenos.

Afeto

A sala de aula que conhecemos é um local onde se passam informações e não um espaço de aprendizagem, segundo a neurocientista Marta Relvas. Falta o professor passar ao aluno, não só o conteúdo, as informações, mas também o sentido e o significado do que é abordado. “O professor tem de mostrar como aplicar o conteúdo na vida, considerando a área emocional e a recompensa. Ele deve emoldurar conteúdos pedagógico em processos emocionais positivos, que valorizem a autoestima”, afirma.


FONTE: Quer aprender mais rápido? A ciencia oferece os dois primeiros passos. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/quer-aprender-mais-rapido-a-ciencia-oferece-os-dois-primeiros-passos-13dp82a9c5jk0dqsd2a6xumgt

14 sinais indicativos de um Distúrbio Específico de Linguagem



O que é Distúrbio Específico de Linguagem?

É uma dificuldade persistente para adquirir e desenvolver a fala e a linguagem. Aparentemente a criança possuiu todas as condições para falar, mas ela não consegue ou apresenta muita dificuldade neste processo.

O atraso no aparecimento da linguagem oral pode, muitas vezes, ser o sinal de problemas auditivos, ou falta de estímulos ou ainda pode ser o sinal de transtornos mais globais no desenvolvimento como o Autismo e a Deficiência Intelectual.

No entanto, esse atraso pode ser o indício de um quadro denominado de Distúrbio Específico de Linguagem (Specific Language Impairment, SLI), ou seja, aparentemente a criança possui todas as condições de desenvolver a linguagem e a fala, mas este desenvolvimento não ocorre conforme o esperado.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos revelam que cerca de 7 em cada 100 crianças saudáveis apresentam algum grau de dificuldade de aquisição e de desenvolvimento da linguagem (Leonard, 2000).

Os pais começam a perceber problemas no desenvolvimento lingüístico da criança por volta dos dois ou três anos de idade: algumas crianças não falam, ou demoram para iniciar a produção das primeiras palavras ou são lentas para aprender novas palavras (vocabulário restrito) ou ainda não conseguem combinar palavras para formar frases.

As dificuldades podem ser variadas, a depender da gravidade do quadro e podem persistir até a idade adulta. Existem casos mais graves, que dificilmente irão desenvolver uma “fala normal”, como existem casos mais leves, nos quais a manifestação mais comum pode ser a dificuldade em adquirir os sons da língua (apresentam trocas de sons na fala).

O diagnóstico precoce e correto é fundamental – para que seja traçado um planejamento terapêutico específico para cada caso e também para que tanto os familiares quanto os professores possam receber esclarecimentos e orientações sobre o problema.

O diagnóstico inicial é feito por exclusão, ou seja, primeiramente tem que ser investigado se existe algum problema auditivo, se a dificuldade é específica da área da linguagem ou se outros aspectos do desenvolvimento da criança também estão alterados, se existe algum problema emocional grave, se em casa está faltando estímulos para o desenvolvimento da fala e da linguagem.

Se todas essas causas forem excluídas e a partir de testes específicos, for confirmada uma alteração no processo de desenvolvimento da fala e da linguagem, daí sim, podemos estar diante de um quadro de Distúrbio Específico de Linguagem.

Sinais indicativos de um Distúrbio Específico de Linguagem:

. O aparecimento da fala é lento ou atrasado;

. A compreensão pode ser normal ou pode estar alterada;

. Dificuldade em combinar palavras para formar frases;

. Presença de alterações fonológicas (troca de sons na fala);

. Presença de alterações morfossintáticas: não consegue estruturar adequadamente uma frase, dificuldade com verbos, preposições;

. Flexionamento verbal e nominal ausente ou inadequado;

. Dificuldade na organização seqüencial das palavras nas frases (inverte a ordem das palavras);

. Fala ininteligível – os familiares não conseguem entender o que a criança está falando;

. Vocabulário restrito – dificuldade para aprender novas palavras;

. Pode aparecer disfluências, como hesitações, repetições de silabas e de palavras (sinais parecidos com uma gagueira);

. Não conseguem relatar fatos, recontar uma história;

. Dificuldade para compreender piadas, duplo sentido;

. Apresentar sérias dificuldades para aprender a leitura e escrita – transtornos de aprendizagem;

. Se há problemas semelhantes na família;

O Distúrbio Específico de Linguagem pode gerar conseqüências para o processo de aprendizagem da escrita e leitura – estas crianças geralmente não conseguem se alfabetizar na idade prevista e possuem sérias dificuldades para acompanhar as atividades em sala de aula. Não conseguem compreender a relação entre o som e a escrita. A aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral são determinantes para o aprendizado da leitura e escrita.

Este Distúrbio também pode desencadear problemas sócio-emocionais: geralmente são crianças que acabam se isolando dos amigos, apresentam um prejuízo no processo de socialização. Existem até pesquisas que mostram que estas crianças são depressivas. Por serem inteligentes, elas possuem percepção de suas dificuldades.

Quais as causas deste quadro?

Pesquisas atuais indicam que estas crianças podem ter um funcionamento anormal da área cerebral responsável pelo processamento da linguagem. Ou seja, o cérebro destas crianças, parece não ser apto para aprender e para processar a linguagem. Pesquisas americanas mostram ainda, que a influência genética parece se relacionar com a organização das áreas cerebrais responsáveis pela linguagem. Este funcionamento anormal não é detectado em exames convencionais para o estudo do cérebro, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética (em geral, estes exames são normais).

O que os pais e professores podem fazer?

Podem ficar atentos quanto aos marcos de desenvolvimento da linguagem, como por exemplo: com 1 ano as crianças já começam a falar as primeiras palavras (papai , mamãe); com 1 ano e meio elas já conseguem juntar duas palavras e a partir dos 2 anos, as crianças já começam a formar pequenas frases.

Quando isso não acontecer é importante que os pais busquem uma orientação profissional. Até mesmo nas creches e escolas, os professores podem observar estes marcos de desenvolvimento.

Se existe também alguém na família que teve ou tem algum problema de linguagem ou aprendizagem é mais um sinal para os pais prestarem atenção. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhores oportunidades de tratamento poderão ser oferecidas.

Infelizmente, a realidade aqui no Brasil tem revelado que muitas destas crianças acabam não sendo diagnosticas ou são diagnosticadas de forma incorreta. Muitas vezes, são confundidas com crianças com surdez ou com crianças Autistas ou com Deficiência Intelectual. Conhecer este quadro é de extrema importância para todos os profissionais que trabalham com crianças como Fonoaudiólogos, Psicólogos, Pediatras, Professores, etc.


FONTE: Texto elaborado por Dra.Elisabete Giusti, publicado em: <http://www.atrasonafala.com.br/disturbio-especifico-de-linguagem.html>