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Para a Psicopedagogia, o fato de uma criança ser portadora de disfunções ou transtornos específicos, não constitui por si só um problema de aprendizagem pois sempre há um potencial a ser aprendido e aspectos a serem desenvolvidos.
O que ocorre, entretanto na maioria das vezes é que sua questão específica pode ser um terreno fértil para a instalação de obstáculo ao processo de aprender da criança, pois, muitas vezes ao seu déficit específico vem se juntar o não reconhecimento da dificuldade por parte família e/ou pelo próprio portador. Por outro lado, exigências do contexto social e escolar que não levem em conta sua especificidade, podem criar dificuldades tamanhas, que a criança pode vir a ter diminuída a capacidade de desenvolver seu potencial de aprendizagem, não atingido por determinado transtorno.
Para Paín, uma criança com um antecedente de cianose no parto, leve imaturidade perceptivo-motora, certa rigidez nos traços, não cria por isso um problema de aprendizagem, desde que sua personalidade lhe permita assumir dificuldades, desde que os métodos tenham-se ajustado às deficiências para compensá-las e desde que as exigências do ambiente não tenham colocado ênfase justamente no aspecto danificado- prestigiando a caligrafia, por exemplo-. Mas se somamos ao pequeno problema neurológico uma mãe que não tolera o crescimento do filho e uma escola que não admite a dificuldade, cria-se um problema de coexistências que parcialmente poderiam ter sido compensadas.
As recentes descobertas científicas sobre a plasticidade cerebral reforçam essa posição sobre o processo de aprendizagem e as inúmeras possibilidades do ser.
Assim posto, a avaliação e o atendimento psicopedagógico de crianças com dificuldades especiais, têm por fim conhecer aquele sujeito frente ao ato de aprender, de que potenciais lança mão, que potenciais paralisa, quais obstáculos, medos, sentimentos de potência e impotência surgem frente à aprendizagem. Propiciar, no atendimento, situações que o conduzam a pensar, refletir, organizar, enfrentar, superar-se, mobilizando objetivamente e subjetivamente seu potencial, não ignorando seu limite, nem paralisando frente a ele, constitui uma proposta psicopedagógica para o atendimento de qualquer criança com obstáculos à aprendizagem e não é diferente com as crianças com questões impeditivas específicas ao seu desenvolvimento.
Cabe ressaltar a necessidade de um diagnóstico diferencial, que vise identificar os transtornos específicos, diagnóstico esse pertencente a profissionais de diferentes áreas de saber, inseridos como diagnósticos complementares à avaliação psicopedagógica.
As vantagens desses diagnósticos, sob o ponto de vista psicopedagógico, seria de se trabalhar com o sujeito real, objetiva e subjetivamente, reconstruindo sua identidade de aprendiz, podendo focar o atendimento nas possibilidades de aprender, mediando a relação do sujeito com o saber, a partir do acolhimento do sujeito como unidade dentro da diferença.
O risco de diagnóstico etiológico para o terapeuta seria o de suprimir o sujeito, transformando-o, identificando-o, nomeando-o pela doença, através de números, siglas ou problemas, negando sua subjetividade, sua possibilidade como ser uno. Por outro lado, se pretender negar causas orgânicas, estruturais, corre-se o mesmo risco de se negar o sujeito.
Para o psicopedagogo, o ser que se apresenta tem sempre algo a aprender, algo a trocar, um caminho de aprendizagem a percorrer.
Referência Bibliográfica
ZENICOLA, Ana Maria. Psicopedagogia e Reabilitação. 2007. Disponível em: <http://www.psicopedagogiaempauta.com/A07_PsicoReabili_Zenicola.pdf>.
Para se chegar à tantas observações das citadas acima, é necessário que tenhamos profissionais sérios, capacitados e predispostos à orientar o paciente e sua família e, de forma similar, o apoio, a compreensão, o interesse, ou seja, o envolvimento da família (parentes, amigos e até mesmo escolas) precisa ser ser integral, uníssono; o que muitas vezes não acontece!
ResponderExcluirUm post interessante Marcia, grato por compartilhar.
Marcius Victor.
Uma postagem bem interessante Marcia Brandão.
ResponderExcluirE, diria, que é bastante louvável ao profissional da área que tenha a percepção e o interesse em mostrar a necessidade de um atendimento "diferenciado" para crianças "ditas especiais".
Acredito que mais importante ainda seria uma boa aceitação dos pais para perceber a necessidade de tratamento para estas crianças.
Se estes 2 "pontos da questão" estiverem alinhados, certamente o sucesso no aprendizado, adaptação, aceitação desta criança será um sucesso.
Legal compartilhar!
Marcius Victor.
Sábias palavras no último parágrafo Marcia Brandão!
ResponderExcluirSe, não apenas o psicopedagogo mas, os profissionais de uma forma geral, em especial àqueles que trabalham no atendimento ao "público", seguisse essa premissa, muita coisa boa seria aprendida e certamente resolvida!
Obrigado mais uma vez,
Marcius Victor.